Nanocorpos de alpacas inibem infecção por Sars-CoV-2 em camundongos

  • 29/04/2021
Nanocorpos de alpacas inibem infecção por Sars-CoV-2 em camundongos

Em estudo australiano, pequenos anticorpos reduziram a carga viral do novo coronavírus nos animais e mostraram potencial para reconhecer variantes emergentes.

Um consórcio de pesquisadores australianos acredita ter chegado a uma potencial alternativa profilática que poderá se somar às medidas já utilizadas contra a Covid-19: um coquetel de pequenos anticorpos neutralizantes – os chamados “nanocorpos”. Capaz de bloquear a entrada do Sars-CoV-2 e reduzir a carga viral em células de camundongos, a mistura foi descrita em estudo publicado recentemente no periódico científico PNAS. 

Os nanocorpos são anticorpos minúsculos produzidos naturalmente por animais da família dos camelídeos, como alpacas e lhamas – e podem ser facilmente adaptados para humanos. Na empreitada das entidades médicas australianas Instituto Walter e Eliza Hall (WEHI), Instituto Peter Doherty e Instituto Kirby, uma dupla de alpacas recebeu uma porção não infecciosa e sintética da proteína spike – ou “S” –, utilizada pelo novo coronavírus para entrar nas células.

O procedimento atendia a dois objetivos: induzir a produção de nanocorpos contra o Sars-CoV-2 pelo sistema imunológico das alpacas e, depois, extrair as sequências de genes responsáveis por sua codificação – assim, os pesquisadores seriam capazes de produzi-las em laboratório mais tarde.

Ao analisar os fragmentos que melhor "combatiam" a proteína spike, o grupo chegou a dois candidatos promissores, que foram sintetizados e aplicados em camundongos infectados com o novo coronavírus. "Ao combinar os dois nanocorpos líderes neste coquetel de nanocorpos, fomos capazes de testar sua eficácia no bloqueio do Sars-CoV-2 de entrar nas células e reduzir as cargas virais em modelos pré-clínicos [que usam animais]", anuncia Wai-Hong Tham, professora associada da Malásia no WEHI e líder da pesquisa, em comunicado.

Os cientistas, então, analisaram como os nanocorpos se ligaram à proteína spike e de que forma isso impactou a capacidade do vírus de se ligar ao receptor ACE2, a enzima com a qual novo coronavírus se liga para entrar em células humanas. Nessa etapa da pesquisa, foram utilizados recursos tecnológicos como cristalografia de raios X e mapeamento de antígenos, disponíveis no Síncrotron da Organização Australiana de Tecnologia e Ciência Nuclear (ANSTO, na sigla em inglês) e no Centro Monash Ramaciotti de Microscopia Crio-Eletrônica.

De acordo com o estudo, a dupla de nanocorpos foi capaz de inibir a ligação entre o chamado “domínio de ligação do receptor” (RBD, na sigla em inglês) da proteína spike e o receptor ACE2 – que está presente em diversas partes do corpo humano, como pulmões, coração, rins e intestino. Além disso, o coquetel induziu uma “neutralização potente” contra o Sars-Cov-2, reduzindo a carga viral em camundongos.

Ao mapear os nanocorpos mais promissores contra o Sars-CoV-2, o grupo também identificou dois fragmentos (WNb 2 e WNb 36) que não só conseguiram reconhecer o novo coronavírus, como as variantes globais emergentes do patógeno. “Coletivamente, esses resultados sugeriram que o WNb 2 e o WNb 36 serão eficazes contra algumas das variantes globais mais proeminentes em circulação”, afirma a pesquisa.

Essas proteínas foram igualmente eficazes contra o vírus Sars-CoV original, causador da síndrome respiratória aguda grave (SARS), que surgiu em 2002 na China. Isso, segundo os pesquisadores, também sugere que o coquetel poderia estar associado à uma proteção cruzada contra esses dois coronavírus.

Alternativa promissora

Historicamente usados como opções no tratamento de infecções respiratórias virais, os nanocorpos têm sido alvos de pesquisas desde o início da pandemia de Covid-19. Em setembro de 2020, por exemplo, cientistas do Instituto Karolinska, na Suécia, identificaram um nanocorpo de alpaca que também se mostrou capaz de bloquear a entrada do Sars-CoV-2 em células humanas, assim como um pequeno anticorpo de Ilhama identificado em dezembro do ano passado por pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês), nos Estados Unidos.

No estudo australiano, os autores levantam a hipótese de que a mistura de nanocorpos detectada poderá ser útil “em pessoas imunocomprometidas que podem não responder tão bem à vacinação” ou, ainda, para prevenir surtos em ambientes de alto risco, como casas de cuidados para idosos. “Nanocorpos que são capazes de se ligar a outros beta-coronavírus humanos – incluindo Sars-CoV-2, Sars-CoV e MERS – podem ser eficazes contra futuros coronavírus também", sugere Tam.

Fonte: Revista Galileu


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